Dei conta de alguns dos meus vários defeitos
E agora confesso que sou mais humilde
Mesmo altivando o meu ego amiúde
Dei conta que o amor é nascido do peito
E que mesmo cego respira direito
Aguardando o dia de sua partida
Dei conta que posso até ser numerado
E que o objetivo do número dado
Não me tira a nobreza de não ser repetido
Dei conta que posso ainda rir um bocado
E que as companhias deste mundo gozado
Podem ser a negação do sentido de amigo
Dei conta que antes de ser conhecido
Eu nunca fui mesmo a maior novidade
Meu código de barra já nasceu vencido
E as coisas vencidas não têm validade
Somos todos piratas invadindo a cidade
Tende piedade, senhor do bonfim!
Me faz ter juízo nas horas de mim
Já me conheço errado o bastante
Não sou como antes, bonzinho e ruim
Que posso eu arguir, entretanto
Se a cada segundo me perco um pouquim?
Meu riso tímido agora tem pranto
Meu choro noturno tem manto e tem fim
Dei conta que mesmo que elogiado
Também dou motivos para ser odiado
Os lábios não dizem, não sentem, não veem.
Dei conta que sou obrigado a abster
Deixar de pensar em todas as contas
E seguir a vida sem razão de ser
Dei conta que sou por vezes arquiteto
E que minhas plantas vão sempre dar certo
Quando o fracasso não quiser vencer
Dei conta que eu não sou dono dos sonhos
Por quais passo dias inteiros pensando
No dia em que o tempo vai me socorrer
Dei conta que as coisas piores do mundo
Estão mais em mim do que vejo em você